De Volta à Mansão dos Brown (conto)


Elenco

 Olivia Holt como Kimberlly Milles

Olivia Holt como Kimberlly Milles

Cole Sprouse como Alex Carter

Cole Sprouse como Alex Carter

Zoey Deutch como Daniele White

Zoey Deutch como Daniele White

Jordan Fisher como Natan Fisher

Jordan Fisher como Natan Fisher

Abigail Cowen como Tamara Young

Abigail Cowen como Tamara Young

Ian Somerhalder como Tomas Brown

Ian Somerhalder como Tomas Brown

Jessica Alba como Hillary Brown

Jessica Alba como Hillary Brown


De Volta à Mansão dos Brown

Todo ano, na véspera de Halloween, a cidade Fear Town vira ponto turístico com a atração Casa do Terror. Por levar um nome, aparentemente maligno e carregar várias histórias de terror e superstições, aventureiros buscam a cidade em época de Halloween para testar sua coragem. Admito que sempre achei isso o cúmulo da idiotice.

Como é de costume, todo ano uma família é escolhida para eleger e decorar a Casa do Terror. Naquele ano, a família Jones foi eleita para assumir tal função.

Eu, particularmente, não curto muito o Halloween. Na verdade, sou extremamente cagona para essas coisas.

- Como assim você não vai? – Daniele me pergunta como se o que eu tivesse dito fosse uma tremenda ofensa.

- Amiga, na boa... Você sabe que eu não curto essas coisas... Então, por que perder meu tempo? – declaro enquanto descemos a Alameda Alfred.

- Ok, eu sei. Você é cagona para isso. – ela fala com desdém.

- Eu não sou "cagona". – dou de ombros mesmo sabendo que eu estava mentindo.

- Então prova. – ela me olha em tom de desafio.

- Tá. – respondo implorando para ela deixar isso pra lá.

- Kimberly Milles, eu desafio você a ir comigo à casa do terror desse ano que será na antiga mansão abandonada dos Brown. – ela cruza os braços.

- Espera aí, a Casa do Terror esse ano vai ser na mansão dos Brown? – pergunto assustada. Só de falar no nome da família Brown, sinto um arrepio na nuca. Qualquer pessoa que tenha, pelo menos, um neurônio funcionado evita sequer passar na frente da mansão.

Uma das mais antigas histórias da cidade conta que Tomas Brown, um jovem de aparentemente uns 40 anos se matou na mansão após matar sua jovem esposa Hillary. É claro que nunca levei a história à sério, mas nem por isso eu me aventuro a ponto de entrar nas propriedades da mansão.

- Sim. Jimmy me disse que os pais dele já conseguiram até licença na prefeitura para isso. A essa altura, a decoração já deve estar quase pronta. Então, vai provar a sua coragem indo comigo amanhã? – ela me olha como se sua vida dependesse disso.

- Dani, qual é. Por que ir até a mansão? – como eu disse, só de passar perto da mansão para visitar uma tia, meu coração já acelerou. Algo na casa me causa arrepios.

- Kim, isso não é real. É só uma história boba para assustar crianças. – ela tenta me tranquilizar.

- Ah é? E por que ninguém nunca se atreveu a morar lá? – afinal, a casa era uma baita mansão.

- Mulher, você já olhou para casa? Ela está caindo aos pedaços. – deduz como se aquilo fosse óbvio.

- Ok, você venceu. Eu vou com você. – declaro.

- Yees.

- Bela fantasia! – Daniele disse ao me pegar em casa e ver minha fantasia improvisada de pirata. Enquanto ela está fantasiada de tábua ouija, com direito a lente de contato branca e tudo o mais.

- Você se empolgou na fantasia, né? – comento ao entrar no carro e colocar o cinto.

- Tá de brincadeira? Tem mais de um mês que estou preparando minha fantasia. Foca nas lentes. – ela diz se virando pra me olhar enquanto aponta o indicador para o olho direito.

- Eu foco se você prometer focar no trânsito. – imploro.

- Kim, você precisa relaxar mais.

- É, eu sei. – nem sempre fui tão certinha assim. Há dois anos, eu e Natan fazíamos tudo o que dava na telha.

"- Eu pulo primeiro. – ele disse quando chegamos na beira da ponte Baker.

As pessoas costumavam vir aqui e pular no rio, era normal, nada muito arriscado... Mas, dias antes, houve uma chuva forte que acabou trazendo muitos galhos e vários troncos de árvores ficaram agarrados nas colunas da ponte. Não tinha como ninguém prever. Sem olhar antes, Natan pulou. Corri para a beira da ponte para vê-lo emergir. Mas ele não veio. O desespero me tomou e, no mesmo momento, liguei para minha mãe. Pouco tempo depois, o socorro havia chegado. Nunca encontramos o corpo de Natan."

- Kim?! – a voz de Dani me volta à realidade. Pisco umas duas vezes tentando limpar as lágrimas. As lembranças vêm e vão e, quando chegam, eu não as impeço.

- Desculpa. – peço e só então percebo que chegamos.

- Estava lembrando dele de novo, né? – ela pergunta e só aceno com a cabeça. – Ok, vamos nos divertir essa noite, tá? – ela comenta e novamente eu aceno em concordância.

Ok, e eu achando que a mansão dos Brown não conseguiria ser mais assustadora. A entrada estava iluminada por abóboras com lanternas laranjas, dando um clima sombrio e, um tanto fúnebre. A porta estava coberta com um tecido preto. Havia pessoas ao redor do casarão. Algumas tomando coragem para entrar. Outras rindo e bebendo, como se ali fosse um ótimo lugar para isso. Escuto uma caminhonete chegar e, automaticamente me viro em direção ao som, provavelmente para tirar minha atenção do casarão, admito.

- Okay, próxima visita saindo em 10 minutos. – Um dos irmãos de Jimmy anuncia. Ele estava na porta, cobrando a entrada de quem quisesse entrar no interior da casa. Ou seja, além de se borrar lá dentro, você ainda teria que pagar por isso. Legal!

- Está pronta? – Dani pergunta ao meu lado.

- Eu tenho escolha? – insisto torcendo para que ela fale que podemos ir embora.

- Acho que não. – brinca me puxando pelo braço.

As visitas eram feitas de 3 em 3 pessoas. Além de mim e Dani, o forasteiro que acabou de chegar na caminhonete entra na fila com a gente. Uma música aterrorizante vem lá de dentro e, de repente, o irmão de Jimmy começa as instruções:

- Sejam bem-vindos à mansão dos Brown. Você vai começar uma nova aventura nos interiores do casarão mais aterrorizante da região. Você não poderá sair por onde entrou. Cada um terá direito à uma lanterna. Sugiro que andem em grupo e se guiem até a saída nos fundos do casarão. Ah, e não se esqueçam. Em noite de Halloween, os mortos voltam à vida. – é o quê?!

- Era para ser encorajador? – sussurro para minha amiga que parece distraída com o forasteiro.

- Você já reparou que o nosso amigo aí é um gato? – ela sussurra em resposta e, automaticamente, eu me viro para olhá-lo. O cara parece ter uns vinte anos, cabelo castanho cortado baixo, os olhos verdes encarando a entrada da mansão, uma jaqueta de couro preta e um perfume forte e amadeirado.

- Entrem. – o irmão de Jimmy anuncia e, com muito receio, entro na mansão.

- Puta merda. – é a minha primeira reação. A mansão é mil vezes mais assustadora aqui de dentro. Principalmente iluminada apenas pelas nossas lanternas.

- Relaxa, gatinha. Eu protejo vocês. – o forasteiro sussurra em meu ouvido e um arrepio percorre por todo o corpo antes de eu revirar os olhos. Antes de eu dizer qualquer coisa, ouço gritos vindo de um corredor à nossa direita.

- O que foi isso? – pergunto girando a lanterna na direção do grito. Mas não há nada lá.

- Acho que faz parte do cenário. – Dani disse tentando me convencer. Então, uma risada maligna percorre o ambiente nos fazendo andar em busca da saída.

- Isso só pode ser brincadeira, né? – pergunto incrédula. Mas antes que um dos meus companheiros possa dizer algo em resposta, uma moto serra é ligada tão próximo que ambos começamos a correr.

- Kim, vai devagar. – escuto Dani gritar atrás mas estou aterrorizada demais para isso. Na realidade, acho que a minha parte que distingue o que é real e o que é mentira se desliga por um segundo e o pânico de morrer ali me consome.

De repente sinto um peso bater contra meu corpo, seguido pelo impacto das minhas costas no chão e um corpo sobre o meu. Tudo fica escuro e, por um breve segundo, me pergunto se eu estou morta, afinal.

- Kim? – escuto Dani chamar ao fundo e o corpo que pressionava meu corpo parece sair de cima, me forçando a abrir os olhos.

- O que aconteceu? – pergunto me sentando. – Aí, merda. – reclamo levando a mão na cabeça e só então associo o que aconteceu. – Por que raios você fez isso? – por algum ataque de loucura, o forasteiro simplesmente se jogou contra mim.

- De nada. – ele responde ainda sentado no chão.

- Kim, você começou a correr feito louca. Ao invés de procurar a saída, você subiu todos os andares da mansão até a sacada. Se ele não tivesse te parado... Eu não quero nem pensar. – e é ai que eu percebo que estamos na sacada da mansão dos Brown.

- Eu... – a realidade é que não me lembro muito bem o que aconteceu nem porque vim parar aqui.

- A propósito, meu nome é Alex. – ele se apresenta estendendo sua mão para me ajudar a levantar.

- Obrigada. – admito envergonhada.

- Acho melhor sairmos daqui. – ele comenta sorrindo para mim.

- Com certeza. – Dani comenta e consigo perceber que, pela primeira vez, ela parece realmente apavorada.

- Então, o que trás você à Fear Town? – ouço Dani perguntar a Alex mais à frente.

- Sinceramente? Não faço a mínima ideia. – ele admite ao passar de frente um espelho grande com manchas do tempo. – Eu senti que precisava vir.

Então eu o vejo. Ao passar em frente ao velho espelho. Natan está lá. Com a mesma roupa do dia em que morreu. Em choque, levo minhas mãos à boca enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto.

- Oi, gatinha. – ele sussurra.

- Natan? – sussurro seu nome.

- Kim? – Daniele surge ao meu lado.

- É o Natan. – olho pra ela por um breve momento e depois volto meu olhar pro espelho. – Ele está ali.

- Kim não tem ninguém ali. – Dani comenta com cautela.

- Ela não pode ver, gatinha. Você não lembra da lenda? – pergunta com aquele sorriso brincalhão no rosto.

- Apenas quem já viu a morte de perto, seja a própria ou a de alguém que tanto amou, é capaz de ver através do véu. – sussurro encarando-o. No reflexo, vejo Dani meio perdida e Alex petrificado. Só então eu vejo o reflexo de uma mulher ruiva parada na frente dele. Diferente de Natan, a mulher desvia o olhar de Alex para sorrir para mim e, lentamente, caminha até Natan, de algum jeito trazendo Alex junto com ela.

- Precisávamos trazer vocês dois aqui hoje. – ela começa e, sem querer, desvio a atenção de Natan para Alex.

- Gatinha, lembra do conto da mansão dos Brown? – Natan me pergunta.

- Ele se matou após matar a própria mulher. – respondo a ele.

- Kim, você está me assustando. Vocês dois estão, é sério. – Dani resmunga segurando meu braço esquerdo.

- Está tudo bem, Dani. – respondo voltando minha atenção para Natan.

- Ele não a matou. A mulher dele foi vítima de uma praga. Tomas amou tanto a mulher, que quando ela morreu, ele não suportou viver em um mundo sem ela. – Natan explica.

- Ele vagou por séculos no limbo até conseguir redenção e uma nova oportunidade de consertar as coisas. – a ruiva explica. Alex parece em choque ao meu lado.

- Na época da praga, o seu sobrinho veio visitá-los. Ele sabia que já estava doente, mas foi irresponsável demais para evitar contato com outras pessoas. – Natan segue explicando.

- E a única médica de plantão que poderia ajudá-la se recusou a perder a última noite com o seu amor para cuidar de uma paciente. – a ruiva explica.

- Tamara, o que você está dizendo? – Alex pergunta à garota no espelho.

- Estou dizendo, Tom. Que se, naquela noite eu tivesse cumprido com o meu juramento, Hillary não teria morrido. – ela está com lágrimas no olhar.

- E se eu não tivesse insistido em vir visitá-los, nada disso teria acontecido. – Natan se explica e, do nada, uma explosão de memórias de outra época invadem o espelho. As lembranças pareciam reais e acolhedoras. O casamento de Tomas Brown com Hillary. Os dois em uma brincadeira de pega-pega que acabou resultando com os dois na cama. O flerte matinal enquanto Tomas lia jornal... Era estranho ver tudo aquilo porque me dava a sensação de que aquelas memórias me pertenciam. Mas como podiam pertencer?

- Reencarnamos para concertar nossos erros e nos tornar pessoas melhores. – Tamara diz entregue pelas emoções. – Vocês dois, Alex e Kimberlly, outrora já foram Tomas e Hillary. Interrompemos a vida de vocês pelos nossos caprichos e, hoje, concertamos tudo...

- O quê? – pergunto – Não, Natan... – levo minhas mãos ao espelho.

- Eu sei gatinha. Mas tudo o que aconteceu, aconteceu para trazer vocês dois aqui, hoje. – ele coloca sua mão de encontro à minha mas tudo o que eu sinto é o frio do espelho.

- Alex... – Tamara chama. – Kimberlly... – e então volta seu olhar para mim. – Permitam se conhecer. – e eu nego com a cabeça.

- Você detesta Halloween e, ainda assim, alguma coisa te trouxe aqui hoje, não foi? – Natan pergunta.

- E você, Alex... Não sabe por que veio, mas ainda assim está aqui. – Tamara se direciona à Alex.

- Nosso tempo está acabando, mas por favor, prometam... – Natan pede antes que sua imagem comece a sumir.

- Não... – chamo-o de volta, mas nada vem... – Natan? – imploro enquanto me jogo contra o espelho.

- Kim? – Daniele me chama mas eu a ignoro. – Alex, temos que sair.– e, quando menos espero, sinto as mãos de Alex me puxarem.

- ME SOLTA!!! – tento me soltar mas parece em vão.

- Kimberlly, vamos. – ele pede mas eu puxo tentando me soltar.

- ME SOLTA!!! – imploro. – Ele vai voltar.

- Kim, por favor! – Dani pede mas eu a ignoro também.

- Tá, chega. – Alex diz e me pega pelo colo. Tento, em vão, bater em seu peito para que me solte, mas parece não fazer nem cosquinhas.

- Por favor... – sussurro por fim já sem forças.

- Eu sinto muito. – escuto Alex sussurrar antes de cair no sono. De repente, foi como se todas as minhas forças tivessem se esvaído.

- Kim... – escuto uma voz masculina sussurrar enquanto tira minha franja do meu rosto.

- O quê? – pergunto abrindo meus olhos por fim e, de repente me sinto perdida. Quanto tempo eu dormi? – O que aconteceu? – pergunto ao ver que estou na caminhonete de Alex. – Cadê Dani?

- Segui ela até em casa, depois prometi te levar para sua. – ele explica parecendo cansado.

- O quê? Não, eu devia estar com ela. – falo.

- Kim, você desmaiou no meu colo. Ela não sabia o que fazer com você. Tentei explicar o que vimos lá dentro, mas não sabia como fazer isso sem parecer um lunático. Então, falei com ela que já te conhecia e que deixaria você em casa sã e salva. – ele se explica.

- E ela acreditou nisso? – pergunto incrédula.

- Não. – ele diz dando de ombros. – É por isso que ela está no carro de trás vigiando a gente. – e só então tomo ciência do carro de Dani logo atrás da caminhonete.

- E por que amanhecemos aqui do lado de fora? – pergunto sem entender.

- Depois que ela me passou o endereço, estava tão cansado que apaguei antes de conseguir te levar para dentro. Então, sonhei coisas... – ele sussurra parecendo assustado.

- Eu sei. – passei a noite toda sonhando com coisas bizarras. Não somente com Hillary e Tomas, mas com outros casais ainda mais antigos. – Tive uns sonhos bem estranhos também.

- Como pode ser real? – ele pergunta e não sei como responder a essa pergunta. – Como eu poderia ter feito algo assim comigo? – ele pergunta e sei que está falando sobre Tomas.

- Está tudo bem. – tento confortá-lo pegando em sua mão, as lágrimas correm sobre seu rosto.

- Não está... Eu nunca nem havia escutado falar em Fear Town e, há duas semanas, não me sai essa sensação de que eu deveria estar aqui. De repente, minha namorada morta me diz que tudo foi um plano para fazer com que eu encontrasse minha ex mulher morta? Isso é surreal. – ele parece perdido. – Eu consigo sentir o amor que ele sentia por Hillary.

- Eu sei. – admito porque também sentia o mesmo. – E mesmo hoje, é como se eu já te conhecesse.

- Amor não é esse sentimento obsoleto que as pessoas falam pelos ventos hoje em dia. Amor é um sentimento que nasce e se nutre com o passar dos dias, dos anos e até dos séculos. Uma pessoa que ama alguém não deixa de amar por uma pequena causa ou por algo tão grandioso como a morte. Almas gêmeas deixam de ser mitos quando o amor se torna real. – sinto cada molécula do meu corpo se agitar quando seus dedos cruzam os meus.

- Caramba, isso é lindo. – sussurro em resposta. Então ele cola sua testa na minha.

- Foi você quem recitou-as para mim. Na primavera de 1794, de frente ao espelho da mansão. – sussurra quando a memória me invade.

- Isso é real? – pergunto a ele.

- Depois de ontem? Eu não sei mais o que é real. Mas sei o que quero fazer daqui para frente. – responde levando sua mão ao meu rosto.

- E o que é? – pergunto-o.

- Isso. – e então, o forasteiro cola seus lábios no meu, no interior da caminhonete vermelha enquanto lembranças de outras vidas nos invadem e o sentimento de estar em casa se faz presente.

Porque no final das contas, é isso. Você pode ter um teto para morar, mas nunca se sentir em casa, entende? Não é o quê... É quem. Sempre vai ser quem. Por mais que a felicidade venha de dentro. Somos predestinados a encontrar pessoas que nos faça viver com mais intensidade. Natan foi meu lar por um bom tempo. Dani é meu lar por ser uma amiga fiel. E Alex, ah... Alex, é o meu lar antes mesmo que eu o conhecesse nessa vida.

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